terça-feira, 17 de maio de 2016

As Sufragistas e o que elas no ensinam sobre representatividade

(Imagem promocional do filme)

Primeiramente, é importante situar aqueles que não conhecem a história das sufragistas. O filme é baseado na história real da luta por direitos sociais na Inglaterra do final do século XIX, onde mulheres eram relegadas a funções subalternas na indústria da tecelagem.
Inconformadas com as péssimas condições de trabalho e com o fato de não serem ouvidas, algumas mulheres passaram a protestar pelo direito ao voto, direito ao sufrágio universal, daí a denominação do filme.
O termo sufrágio universal, na definição do dicionário representa o exercício do direito daqueles que tem capacidade legal, isto é, intelectualmente capazes. Essa definição nos países democráticos abarcava apenas homens adultos até o século XX. 
Nessa época, as mulheres não tinham voz na indústria, na política ou em qualquer espaço social, pois predominava-se a cultura do patriarcado instituída pela Roma Antiga em que o poder era centrado no homem. Aqui abrimos um parentese, pois conforme vimos no texto: "Um breve histórico da Sexualidade feminina", o patriarcado nem sempre existiu enquanto discurso normativo. Passando a instituir as relações do poder e de gênero, principalmente a partir da disseminação do cristianismo.
Importante ainda ressaltar como o "Zeitgeist" da época foi determinante para o surgimento de teorias feministas, isso porque aquele momento da história estava marcado pela necessidade de novas configurações sociais que se adequassem a história corrente, pois as relações de trabalho, de lar, sociais já não encontravam lugar nos discursos patriarcais, que relegavam a mulher o cuidado da família e ao homem o provimento do lar. As mulheres tinham jornadas exaustivas de trabalho e não dispunham dos mesmos direitos e garantias dos homens.
E com essa necessidade de buscar novas construções sociais para dar conta da realidade, surge o movimento das sufragistas. Sendo importante esclarecer isso, pois nenhuma teoria surge desconectada da realidade em que vivemos, ela surge precisamente para corresponder a um ponto da realidade. 
E nesse sentido, o filme traz uma reflexão importante: Por que conquistar o voto era tão importante que levou a uma luta de classes e fez com que mulheres morressem por isso? O que as sufragistas desejavam era poder fazer as leis de forma que elas também atendessem as necessidades das mulheres.
É aí que entra a importância de representatividade feminina. Para entender o que significa essa coisa chamada representatividade, é necessário entendermos o que é o sufrágio e qual a importância dele na sociedade. O Sufrágio ou o direito ao voto é uma importante ferramenta pelo qual o cidadão pode escolher quem o representará nas instituições políticas da sociedade. Em tese, a representatividade, por intermédio do voto, serviria para nos dar voz dentro dessas instituições. Seria um instrumento "sine qua non" para o exercício da democracia.
Como todos sabem a Democracia é o sistema pelo qual os cidadãos elegem seus representantes legais para tomar decisões buscando o melhor interesse social.
Já naquela época, as mulheres começavam a perceber que sem alguém no poder que pudesse minimamente falar por elas, elas jamais teriam condições iguais na sociedade. 
A luta pelo voto foi bem mais do que a luta por um direito, foi uma luta por representatividade, pelo direito de ser ouvida e levada em consideração, foi uma luta por direitos iguais.
De lá para cá, a participação da mulher na política cresceu consideravelmente, no entanto, ainda é muito incipiente, pois não há o reconhecimento do campo da política como um campo para a mulher, ainda enfrentamos o discurso altamente patriarcal nessas instâncias, onde a mulher só deve atuar de forma meramente figurativa e aquelas que se atrevem a ser mais, são desencorajadas e desinvestidas pela sociedade. O que nos conferem desvantagens históricas não apenas nas decisões políticas, mas também naquelas que envolvem questões inerentes a nossa própria condição feminina.
Prova disso são as pautas que circulam na Câmara dos Deputados, nas quais homens em sua maioria discutem questões ligadas ao feminino. As mais controversas são o Estatuto do Nascituro - PL 478/2007 que ameaça direitos sexuais e reprodutivos, inviabilizando inclusive o aborto previsto no código penal e a PL 5069/13 que dificulta a atenção à vítimas de abuso sexual, com propostas altamente revitimizadoras. 
A recente crise no país, trouxe algo de sintomático na nossa política e na nossa sociedade. Não é por acaso que a divulgação de ideais como o jargão "Bela, recatada e do lar" ganharam força e a falta de mulheres no primeiro escalão do governo foi recebida com naturalidade por alguns setores da sociedade. Isso nos sinaliza retrocessos e nos mostra que em pleno século XXI ainda precisamos lutar por representatividade, por ampliação de espaços nas discussões e decisões políticas, para que não haja nenhum direito a menos. 
Já dizia Simone de Beauvoir: "Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que se manter vigilante durante toda a sua vida."


Sobre a autora: Camila Thiari é Psicóloga por missão na vida, atua na área de Direitos Humanos. É Feminista (assim mesmo com "F" maiúsculo). Acredita no direito de escolha e que a cultura é a forma mais autêntica de expressão humana. Nas horas vagas preenche o vazio existencial com séries, livros e filmes.

2 comentários:

  1. Muito bom! Vem num momento bem importante para nós mulheres... em que esse governo golpista de homens brancos aplaude a misoginia, racismo, homofobia e quer destruir tudo q já foi conquistado por nós.

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    1. Gratidão! Mais do que nunca é importante a mobilização. Avante!

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