quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Quando o ódio se espalha...revelando a sombra interior.




A psicanálise sempre fez o seu papel em explicar os conteúdos inconscientes que perpassam nossas escolhas e decisões na vida. Em psicologia do eu e análise das massas (1921) Freud já nos alertava para os conteúdos sintomáticos que projetamos quando alçados por um líder.  Isso porque quando a massa se reúne em torno de um líder, as barreiras que separam a civilização da barbárie caem por terra. As inibições criadas pela sociedade dão lugar aos instintos mais primitivos, cruéis e violentos, amplificados por um líder, para a livre satisfação individual.
É como se existisse uma mente coletiva que pensa, sente e age de forma diferente do que cada um o faria individualmente. A formação desses vários indivíduos mescla-se e forma algo completamente diferente. É por isso que são perceptíveis as diferenças entre aquilo que ressoa quando há a formação do grupo e os conteúdos que individualmente os membros desse grupo trariam a tona dentro da sociedade, muito embora esses indivíduos separadamente já dessem alguma mostra de sua sombra. Talvez muitos sujeitos individualmente se recusem a acreditar que suas ações representam instintos brutais e perversos, principalmente porque ao se verem representados em seus desejos secretos, esses desejos encontram uma forma de se ligar ao socialmente aceitável dentro daquele grupo ao qual pertence, uma forma de satisfação.
Na verdade, é muito fácil provar que o individuo dentro de um grupo é muito diferente do individuo isoladamente. No entanto, isso não é uma absolvição para ódio verbalizado. Isso porque embora esse individuo talvez não revelasse os desejos mais secretos, aqueles que não ousa dizer, e, que verdade seja dita, às vezes não tem sequer consciência de possuí-los em razão das forças de repressão que agem enquanto mecanismos de defesa (expulsando de sua consciência aquilo que se considera inconcebível ou porque é uma agressão a sua psique ou porque a sociedade não aceita) não anula o fato de que são desejos que estão lá e que na configuração das massas e permeado por um discurso legitimador, saltam à sociedade.
E o mais assustador é que quando engolido pelas massas, nem mesmo o individuo mais atento conseguirá analisar sua conduta de forma consciente, seu discurso refletirá o que a massa assume enquanto verdade e a propagação da violência será amortizada enquanto demanda psicológica individual.
Infelizmente, nossa sociedade teve uma amostra do discurso violento que legitima desejos pessoais e inconcebíveis dentro do viver em sociedade. E uma vez legitimado essa sombra toma conta do país.
Nosso país dá mostra de fascismo, do discurso perigoso de que algumas vidas importam menos, pois o Brasil está acima de todos. Um Slogan herdado da Alemanha nazista, um discurso reproduzido direto das linhas de Hitler e que ganhou força como algo novo, soluções simples para problemas complexos.
Uma separação de “nós” e “eles” (os negros, os LGBTI, as feministas, os movimentos sociais, os professores doutrinadores, os ativistas, os indígenas, os quilombolas, os ambientalistas, Etc.). Em suma, os “eles” são todos aqueles que não endossam o discurso das massas e para eles: cadeia, exílio ou a ponta da praia.
Mais do que nunca, a resistência será necessária. É preciso se fortalecer. Procurem os amigos próximos, as pessoas que estiveram em luta com vocês, permaneçam de mãos dadas. Proteja a sua saúde mental, cerque-se de pessoas que tenham alinhamento de projeto de vida, certifique-se que não está sozinha. Utilize estratégias de segurança se considerar que você é um alvo nesse novo regime. Usem filtro soltar e lembre-se que a luta por direitos é uma luta diária.
Toda a minha admiração por quem lutou pela democracia e por quem será resistência.


Sobre a Autora: Camila é Psicóloga por missão na vida. Trabalha com Direitos Humanos. É Feminista (assim mesmo com "F" maiúsculo). Acredita no direito de escolha e que a cultura é a forma mais autêntica de expressão humana. Nas horas vagas preenche o vazio existencial com séries, livros e filmes