quarta-feira, 18 de maio de 2016

Representação feminina na literatura: de objeto de desejo a autora do processo







A literatura, assim como as demais artes e a religião, é um ato político, pois não lemos somente aquilo que queremos, mas lemos e muito aquilo que chega ao nosso alcance. E qual é a literatura que temos acesso? E como a mulher é representada nesses livros? Esses são os questionamentos que nortearão a minha fala de hoje.


Assim como as demais artes, a literatura ainda é uma área extremamente machista e questionar isso é o ponto de partida que nós mulheres temos que dar ao ler um livro. Até o início do século XX a maioria dos livros eram escritos por homens e a representação feminina baseava-se no olhar que esses homens tinham da mulher. Em uma breve pesquisa nessa literatura percebemos que esses autores dividiam a mulher em três tipos: as esposas (ou as amadas), as amantes ou as prostitutas, vide Ilíada e Odisseia de Homero, Romeu e Julieta de William Shakespeare e Dama das Camélias de Alexandre Dumas. Não havia uma classificação intermediária. Outro questionamento acerca dessa representação é que muitas vezes as mulheres eram retratadas como seres puros, quase intocáveis que eram o objeto de desejo dos homens e que tinham como objetivo em suas vidas o de encontrarem parceiros e em especial para casarem. Em contraste tínhamos a mulher impura que vende seu corpo e que da mesma forma é vista como um objeto de compra e venda e que não tinham tanta vontade própria também. E como falamos anteriormente, como essa era a literatura que as mulheres tinham acesso, as mulheres que liam somente esses livros muitas vezes aceitavam esses papeis sem qualquer questionamento. Essa restrição das personagens mulheres na literatura só repete essa cultura de opressão e ao percebemos a necessidade de haver diversidade na nossa leitura percebemos que existem outras realidades que devem e precisam ser representadas.


Um outro questionamento muito pertinente acerca do machismo na literatura refere-se ao preconceito que as mulheres sofreram e sofrem ao se tornarem autoras. Se pararmos para pensar em quantas mulheres nós conhecemos que leem livros escritos por homens, nossa resposta pode ser todas ou quase todas, mas se pensarmos o contrário, quantos homens conhecemos que leem livros escritos por mulheres, o número já não é o mesmo. Muitos homens não conseguem ver a literatura escrita por mulheres como literatura, mas apenas como literatura de “mulher”, como se isso pudesse existir. Como observamos anteriormente, livros escritos por homens podem ser tão segregados quanto livros escritos por mulheres.

Infelizmente o que vemos é que pouquíssimos livros escritos por mulheres figuram nas listas de livros considerados clássicos, que muitas autoras sequer são traduzidas para nossa língua por não terem qualquer visibilidade aqui. Por isso eu venho aqui propor um momento de dedicarmos o nosso olhar as mulheres escritoras que tanto contribuíram e contribuem para as nossas vidas não somente como mulheres, mas como seres humanos. Pois dizer que não há sentido em questionarmos os padrões que eram e são impostos as mulheres seria a mesma coisa de dizer que está tudo bem e que nada precisa mudar e o noticiário dos últimos dias tem nos mostrado o contrário, que precisamos mudar e com urgência, pois nem todas a mulheres foram criadas ou devem ser criadas apenas para seres belas, recatadas e do lar, as mulheres dever ser o que elas quiserem, mas elas precisam ter o direito a escolher e não esse direito lhes ser imposto como única escolha possível e que venham as mulheres maravilhosas da literatura com seus textos maravilhosos e que esses textos nos alimentem a ir além, nos motivem a buscar nossos eu interiores, como donas do nosso destino e não apenas mero objeto do imaginário dos outros.
 

Sobre a autora:  sou Patrícia Piquiá, professora de inglês, nerd, feminina e feminista, amante da literatura, cinema, séries, artes plásticas e música. 



Um comentário:

  1. Belo texto! E coloco uma lupa nesse tema que fala de literatura para me referi a a língua que é muito machista, além de termos a questão da literatura ser "coisa de homem", a linguagem também é tida para homem. A história é sempre contada do homem para o homem. Somos sempre generalizada na língua para o masculino, sendo esse conceito importante de ser revisto porque a linguagem reforça o machismo e invisibiliza a figura feminina. Se num salão com mais de 100 mulheres e apenas um homem, devemos falar TODOS e não TODAS, isso é absurdo, deveria ser falado pela maioria. Mas sempre se dá um jeitinho para deixar a mulher de fora.
    Muita luz manas nesse trabalho lindo de vocês!

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