quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O dia que não acabou...

Foto da Manifestação Dia 13/12/2016 - Arquivo pessoal


Dia 13 foi um dia fatídico, repleto de significado. Foi o dia que desiludimos do sonho de viver em uma Democracia.
A repressão da manifestação deixou claro que só é possível se manifestar neste país se sua visão de mundo estiver alinhada com a ideologia denominante.
E, sim, foi repressão o que ocorreu na Esplanada dos Ministérios. Os grupos contrários ao projeto de governo foram massacrados, numa tentativa covarde de coibir os protestos. A mídia como sempre cumpriu seu papel de manipular a população e encobrir o Governo.
Os manifestantes contrários a proposta e ao governo são sempre taxados pela grande mídia de baderneiros, vândalos e comunistas. Já os que possuem uma visão alinhada, por outro lado, são cidadãos, ou os paneleiros de verde e amarelo - como chamamos carinhosamente, cuja indignação é justificada, é pelo bem do país. 
O engraçado é que os paneleiros, nada mais são do que se autointitulam cidadãos de bem (e tenho horror a eles), aqueles que acreditam que bandido bom é bandido morto, que a mulher é uma encubadora em potencial e que merece morrer ou ser presa se decidir exerceu seu direito de escolha, insinuam que as cotas são imorais, acreditam na Meritocracia. São aqueles que não tem nada contra homossexuais, negros e mulheres, mas....
Aos cidadãos de bem, a polícia está ali para o suporte, pois eles servem para manutenção do Status quo, eles são a massa de manobra que a mídia utiliza para controlar os eventos sociopolíticos do país.
E são constituídos de dois tipos de pessoas: a classe média alta, que está cansada de pobre e negro fazendo faculdade, viajando de avião e doméstica de carteira assinada, que pensa sempre no próprio umbigo e está preocupado é se vai ou não conseguir ir à Disney esse ano. A outra parte é composta pelo cidadão médio, aquele que adentrou à classe média e se sente integrante deste grupo, mas que obviamente ainda não percebeu que seu destino é voltar a classe pobre. São os famosos oprimidos que sonham em ser opressores e por isso, sustentam a visão de mundo da classe dominante e são rápidos em julgar e culpabilizar a esquerda. 
Aos manifestantes, a polícia está ali para reprimir, descer a porrada e alimentar a imagem negativa de quem tenta fazer algo pelo país. E assim, o governo e a mídia conseguem o que quer, manipular parte da população para servir aos seus propósitos.
Dia 13 foi o Climax de uma história que se iniciou em 2003, com a eleição do Partido dos Trabalhadores para o Cargo antes ocupado pelos Senhores da Casa Grande. E que significativo que nossa maior derrota tenha sido em um dia de número 13.
Em 2003 quando o Partido dos Trabalhadores assumiu a Presidência da República, assumiu o desafio de governar para os mais pobres, sem que isso significasse romper com a elite. É fato que o poder aquisitivo cresceu ao longo da era PT, que conseguiu implantar os programas sociais como nenhum outro governo tinha conseguido fazer. Com a renda aumentando, os benefícios de transferência de renda entrando em foco, a Direita começou a se ressentir, pois perdia pouco a pouco sua distância da classe dominada. A classe trabalhadora teve um ganho financeiro real, mas não teve ganho ideológico. O partido passou a governar para atender a institucionalidade política e se esqueceu da formação ideológica de base da sociedade e do povo. 
Os movimentos sociais tiveram a falsa ilusão de que a esquerda estava no poder e relaxaram em cobrar e se colocar como oposição, com isso abriu espaço para que outros movimentos conservadoristas ganhassem adeptos. 
Todas as acusações, a corrupção trouxe um fardo para a esquerda que sucumbiu ao seu peso. A direita sempre foi corrupta, todos sabíamos, mas a esquerda foi mais atingida, porque nossa decepção foi maior.
Com todos esses golpes (que ironia) sofridos, a Direita estava pronta para dar o golpe certeiro e sua estratégia foi melhor, eles aproveitaram da crise que era mundial, da nossa decepção com a esquerda e da mídia que desejava que a Direita retomasse seu projeto neoliberal. Eles inflamaram os grupos que nunca admitiram os ganhos sociais e essa fórmula foi o suficiente para implodir o País.
A direita conseguiu implantar o seu programa neoliberal, que é a política dos bancos, dos empresários, que beneficia a elite a custa da exploração do trabalhador. Deram inicio a vários retrocessos, atacando pontos essenciais da Constituição de 1988, já falei um pouco sobre os direitos humanos adquiridos na constituinte aqui. A PEC 55, votação ocorrida no dia 13, ataca a espinha dorsal da Constituição Federal que é o Estado Social.

Infelizmente, os movimentos sociais não foram rápidos o suficiente em se organizar, enquanto classe. Mas agora é urgente a organização para que possamos continuar a resistir, pois tempos sombrios virão.


Sobre a autora: Camila Thiari é Psicóloga por missão na vida, atua na área de Direitos Humanos. É Feminista (assim mesmo com "F" maiúsculo). Acredita no direito de escolha e que a cultura é a forma mais autêntica de expressão humana. Nas horas vagas preenche o vazio existencial com séries, livros e filmes.