domingo, 12 de junho de 2016

A tendência de grupo e o estupro

Sim, ainda precisamos falar de estupro. 

No fim de maio as notícias se voltaram para o apavorante destino de uma jovem de 16 anos, estuprada coletivamente enquanto estava desacordada. Desde então, diversos outros casos de estupro de vulnerável foram noticiados; isso pelo enfoque que a mídia tem dado (sim), pelo identificação que proporcionou a outras vítimas e as incentivou a denunciar a violência que sofreram (também), mas ainda pela influência que o grupo social exerce sobre o indivíduo (perigosamente). 

De forma simplificada, o grupo constitui um conjunto de pessoas que compartilham crenças, ideologias e hábitos, que abrem mão de aspectos que os individualizam para que assim funcionem enquanto um coletivo. Todos nós compartilhamos com outros semelhanças e nos fundamentamos pelo pensamento disseminado entre os membros do grupo a qual pertencemos. 

Se imaginarmos um shopping, podemos visualizar como o grupo social funciona. Não existem muitas diferenças entre os membros de um grupo de jovens adolescente quando estão em suas atividades coletivas, e o discurso compartilhado por eles chega ao absurdo de uniformidade. Assim como o comportamento das famílias, namorados, mulheres e homens se assemelham em cada grupo que pertence (ex: casais de namorados tendem a compartilhar os mesmos hábitos que outros casais ao passear por entre as lojas do shopping. 
Os adultos não parecem tão influenciáveis pelo seus grupos, pois suas possibilidades de identificação social são mais ampliadas, com grupo de trabalho, faculdade, novo grupo familiar, mais recursos sociais e psíquicos. Ou seja, mesmo que não esteja tão obviamente identificado com o grupo a qual pertence, o indivíduo adulto também sofre a influência massiva do grupo social.

Então, mas o que isso tem a ver com o estupro? 

Como vimos em nosso último texto A cultura do estupro e a culpabilização da vítima, por trás de cada estupro existem crenças e hábitos que fundamentaram o pensamento do agressor e reforçaram o seu comportamento, inclusive legitimando o seu direito ao estupro da vítima. A cultura que o mantém é transmitida justamente pelo grupo social, como pessoas que assistem um certo tipo de programa televisivo tendem a compartilhar o mesmo pensamento a respeito dos personagens,

Parece surreal que um simples pensamento possa resultar em um estupro? Então observe as seguintes notícias sobre estupro coletivo dada nos últimos oito dias: 



Quatro casos em oito dias, com suas diferenças, mas que compartilham do uso da vulnerabilidade da vítima para estuprá-la. Quatro cantos diferentes do país, mas que compartilham o mesmo ato opressivo e violento. O estupro coletivo, principalmente, mostra como o grupo é poderoso. No caso do Rio de Janeiro, foram 33 homens cometendo um ato horrendo, sem que nenhum tivesse a lucidez de pará-lo. Isso porque, naquele momento, eles funcionavam com um único pensamento: o direito de uso do corpo de uma mulher ou criança que o discurso machista, compartilhado pelos grupos sociais, legitima. 

Há, de forma crescente, uma tendência perigosa nos grupos que ameaça a vida de mulheres, a tendência de por em prática e justificar  todos os:

Sexo frágil
Falta de dar
Corpo e delito
Mas também, ela...
Cu de bêbado não tem dono
Mulher não pode sair sozinha
Mas se é marido, não é estupro
Mulher é difícil, tem que insistir
O homem tem suas necessidades
O homem é violento por natureza
O homem tem que dominar a relação
Se alguém a estuprar vai estar fazendo um favor

E eu questiono: como o grupo social do qual você faz parte tem reforçado a cultura do estupro? O que você tem feito para influenciar os grupos que você pertence?


Leia também: A cultura do estupro e a culpabilização da vítima | Estupro, uma arma de guerra | Um breve histórico da sexualidade feminina



Sobre a autora: Rach é psicóloga, tem tentado ser escritora e vive na internet desde que isso tudo era capim. Quando criança, perguntou certo dia a sua mãe porque ela dizia "não vou colocar meus filhos homens para lavar a louça se tenho uma moça em casa", e depois de tantas outras perguntas sem resposta, se apaixonou pela bruxaria, se indignou com o machismo e se descobriu feminista.





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